quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Radicais Livres, Envelhecimento e Medicina Ortomolecular

Desde o seu nascimento, o ser humano produz radicais livres. Contudo, os sistemas antioxidante e imunológico estão bem desenvolvidos no início da vida, o que reduz os efeitos danosos promovidos por essas espécies reativas.
À medida que se envelhece, os antioxidantes sintetizados naturalmente pelo organismo não são suficientes para controlar a quantidade de radicais livres. Portanto, as células e suas estruturas sofrem, indiscriminadamente, os efeitos oxidantes e são prejudicadas quanto às suas funções.
Como visto em postagens anteriores, destacam-se, entre as ações nocivas dos radicais livres, a oxidação dos ácidos graxos das membranas e as reações com os ácidos nucléicos. A primeira resulta em um prejuízo funcional das membranas, que perdem a total eficácia da permeabilidade seletiva. Já a segunda pode provocar alterações no material genético e, consequentemente, mutações no mecanismo de divisão celular e o aparecimento de tumores.
Na juventude, essas células modificadas seriam eliminadas prontamente pelo sistema imunológico. Entretanto, esse sistema começa a falhar com o passar dos anos e não se demonstra tão eficiente no que se refere à destruição de células alteradas e “velhas”. Logo, ocorre um acúmulo de células deficientes no organismo, o que prejudica toda a fisiologia dos tecidos e dos órgãos. Esse processo também é responsável pela suscetibilidade dos idosos a diversas doenças, tais como diabete, câncer e catarata.
Como os neurônios são ricos em ácidos graxos poli-insaturados, a peroxidação lipídica nessas células é bastante significativa. Além disso, os radicais livres inibem a síntese de neurotransmissores. Esse fato, associado à baixa produção de antioxidantes na velhice, torna frequentes problemas como a perda de memória e a ocorrência de doenças neurodegenerativas, a exemplo do mal de Parkinson e do Alzheimer.
O envelhecimento e as disfunções neurológicas também são responsáveis por um aumento na concentração extracelular de metais como o ferro e o cobre. Esse processo é extremamente tóxico ao organismo, visto que esses metais favorecem a produção de radicais livres e, por consequência, agravam os efeitos provocados pelos danos oxidativos.

À procura de uma fonte da juventude

Os conhecimentos e as descobertas sobre os aspectos bioquímicos da velhice estimulam o desenvolvimento de diversas indústrias, que tentam criar métodos e produtos para retardar ou minimizar os efeitos do envelhecimento. Nessa linha de raciocínio, evitar o consumo de drogas e a excessiva radiação solar, ter uma alimentação saudável e boas noites de sono e praticar atividades físicas regulares são hábitos que evitam o estresse oxidativo e o envelhecimento precoce.
Nesse contexto, surge a suplementação nutricional, ou seja, a inclusão de certas substâncias na dieta. Muitos pesquisadores acreditam que a ingestão de minerais antioxidantes (zinco e selênio), betacaroteno e vitaminas C e E, antioxidantes obtidos principalmente por meio da alimentação, é essencial para regular a produção de radicais livres e impedir a sua ação nociva.
A atuação antioxidante do betacaroteno e das vitaminas C e E já foi elucidada em uma postagem anterior. O Selênio, assim como a vitamina E, protege as membranas celulares da lipoperoxidação e impede a formação de radicais livres, evitando o surgimento de doenças cardíacas e o envelhecimento precoce. Já o zinco apresenta um papel importantíssimo no sistema imunológico e na eliminação das “células velhas”, visto que regula os genes dos linfócitos, controla a produção de imunoglobulinas e propicia o desenvolvimento das células “natural killer”.

Medicina Ortomolecular

Os conceitos sugeridos pela suplementação nutricional remetem a uma prática alternativa denominada Medicina Ortomolecular. A Medicina Ortomolecular defende a ideia de que o indivíduo deve possuir um organismo em perfeito equilíbrio químico para ter uma vida saudável. Portanto, as enfermidades seriam decorrentes da falta desse equilíbrio. Segundo essa linha de pensamento, a inclusão de vitaminas, minerais e alguns aminoácidos na dieta, especialmente os que apresentam alguma ação antioxidante, seria a maneira mais eficiente de se prevenir doenças e retardar o envelhecimento, visto que inibiria a produção e atuação dos radicais livres.
Contudo, várias são as críticas dirigidas contra a Medicina Ortomolecular. A própria ausência de um embasamento científico adequado contribui para que ela seja mal vista por muitas entidades e profissionais da saúde. Segundo o presidente do Conselho Federal de Medicina, Edson de Oliveira Andrade, "essa história de inibir o aparecimento de radicais livres é conversa. Só tem uma maneira de inibir a produção desses radicais. É você parar de comer e de respirar".
Em alguns casos de anemia ou de deficiência nutricional, a Medicina Ortomolecular auxilia a reposição das substâncias necessárias para a reabilitação do organismo. Mas é preciso ter sempre em mente que não se deve substituir outras formas de tratamento por essa prática, que intervenções na dieta não são vacinas e que nem todas as doenças resultam de uma má alimentação.
A Medicina Ortomolecular é, em grande parte, responsável pela difusão da ideia de que os radicais livres são as entidades malignas do universo e os antioxidantes, os heróis criados para a nossa salvação. Esse pensamento é equivocado na medida em que os radicais livres também apresentam ações benéficas para o organismo, que podem ser suprimidas pela ingestão indiscriminada de certos antioxidantes.
A ingestão excessiva de determinados antioxidantes pode provocar hipervitaminoses e, consequentemente, quadros de intoxicação. Por exemplo, o excesso de vitamina A, cujo precursor é o betacaroteno, pode causar cefaleia, tontura, náuseas, pele ressecada e icterícia devido a lesões no fígado.

Em certos tecidos, alguns antioxidantes não combatem os radicais livres de maneira eficiente ou até auxiliam as ações nocivas promovidas por eles. É o caso da vitamina C, que, na presença de metais de transição como o ferro, atua como uma molécula pró-oxidante e propicia a formação de peróxidos de hidrogênio e hidroxilas.

Referências Bibliográficas

http://www.plox.com.br/caderno/ci%C3%AAncia-e-sa%C3%BAde/atua%C3%A7%C3%A3o-dos-radicais-livres-no-envelhecimento-precoce
http://www.jvanguarda.com.br/2006/09/15/o-papel-dos-radicais-livres-na-saude-e-no-envelhecimento-precoce/
http://oglobo.globo.com/vivermelhor/mat/2007/12/02/327410894.asp
http://pt.wikipedia.org/wiki/Medicina_ortomolecular
http://www.infoescola.com/doencas/hipervitaminose/

NUNES, E.; NUNES de MORAIS, R.; OLIVEIRA, S. C. Radicais livres: conceito, doenças, estresse oxidativo e antioxidantes. Disponível em: http://www.fes.br/revistas/agora/ojs/include/getdoc.php?id=128. Acesso em 15 de novembro de 2010.

PUC – Rio. Envelhecimento e neurodegeneração – uma visão bioquímica. Disponível em: http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0610607_10_cap_03.pdf. Acesso em 29 de dezembro de 2010.

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